Nesta fase da minha vida, em que me encontro bem, com pensamentos claros, com leveza de espírito, deixo aqui uma reflexão, que costumo ter algumas vezes e que me leva a ter uma atitude sobre a vida mais descomplexada.
Diz-se que Deus dá os seus maiores desafios, aos seus melhores guerreiros. Nem eu sou a pessoa mais religiosa, nem tão pouco me considero um guerreiro.
À medida que fui partilhando convosco a minha história, fui-me lembrando de situações, pensamentos e atitudes que tive durante todos estes anos.
Perguntam-me muitas vezes porque é que me exponho desta forma. Muitos parabenizam-me pela coragem de o fazer. Para mim, escrever sobre tudo o que passei, significa que fiz as pazes comigo mesmo.
Realmente, a maioria das pessoas não expõe a sua vida privada. É o mais normal. A verdade é que desde que voltei do Porto, em 2013, sabia que meio Porto Santo ia falar sobre o assunto, mas iam falar sobre o assunto, acrescentando sempre um ponto. E geralmente esse ponto, nada tinha que ver com a verdade.
Eu nunca dei importância ao que falam sobre mim. Dou mais importância ao que dizem à minha família. Eu nunca fui alguém que passasse por cima de ninguém para conseguir o que quer que fosse. E mesmo com todos os problemas que tive na minha vida, tenho o meu trabalho, que gosto bastante, tenho a minha função no futsal, que é a minha paixão e tudo isso que tenho, não me foi dado. Foi graças à minha forma de ser, à minha forma de estar e de lidar com as pessoas.
Muitas vezes, no trabalho, no futsal, nas alturas que não estava bem, esses eram os últimos sítios onde me apetecia estar. O ano passado, senti que tinha que abdicar da minha função de treinador, por lidar com jovens e não querer que eles me vissem no estado frágil em que me encontrava.
Hoje faria as coisas de forma diferente. Em muitos momentos.
O que me interessa, realmente, é a opinião da minha família, dos meus amigos, daqueles que gosto e daqueles que realmente passaram por estas batalhas, desilusões, provações junto a mim.
Por muito que tenha errado e falhado, falhei essencialmente comigo e fiz sofrer aqueles ao meu redor, que se importavam comigo e esse é o fardo que eu carrego.
Como disse, hoje sinto que fiz as pazes comigo mesmo e por isso sinto esta leveza em partilhar convosco a minha história, na esperança que possa ajudar alguém.
Não sou um guerreiro. Guerreiros são aqueles que passam por coisas bem mais graves que a minha e conseguem voltar a viver a vida com um sorriso.
Eu, sou apenas alguém que chegou ao seu limite e decidiu pôr um termo a uma vida maioritariamente de frustração, ansiedade e tristeza recorrendo a ajuda de profissionais. E é isso que faz a diferença neste momento.
Agora as pessoas podem falar. Eu quero que falem. Mas agora falem, sabendo da história real, contada por mim e não daquilo que desconhecem.
Eu sei que estou num momento bom, sei que vou ter momentos difíceis, mas ninguém, nem mesmo eu, vão conseguir desviar-me o meu foco em tornar-me na melhor versão de mim mesmo.
Digam não ao jogo. Digam sim a uma vida normal.
(Se algum de vocês está a passar por uma fase complicada relacionada com este tema e precisar desabafar, podem entrar em contato comigo. Ninguém está sozinho.)