Muitos apostadores, entram num ciclo vicioso, do qual não conseguem sair. Como a mente está programada para o jogo, para recuperar perdas, várias vezes vêm-se encostados entre a espada e a parede. Por vezes parece não haver solução.
Durante os 16 anos que o jogo esteve presente na minha vida, nem sempre tiveram o mesmo impacto, aliás, nesses 16 anos, existiram muitos períodos, meses em que não apostava/jogava. Acho que é normal, depende muito do que acontece na nossa vida num determinado momento.
Jamais pensaria eu, que iria ter o impacto que teve na minha vida. Existem casos bem piores que o meu e existem casos que estão agora a começar, mas todos terão um ponto em comum. Em qualquer um dos casos, vão ter um impacto na vossa vida.
Muitas pessoas, que andam nestes meandros, identificam-se com o que escrevo. O que escrevo é baseado naquilo que eu passei. Aquilo que escrevo é nu e cru.
Tive muitos momentos em que me senti à beira do abismo, em que um passo em falso, uma escorregadela, iria fazer-me cair. Eu caí, caí bastante forte. Mas não cheguei a cair nesse abismo, podem entendê-lo como figurativo, mas chegou a ser real. Houve algo que me impediu de cair e de estar cá hoje.
Todos os apostadores, que chegaram ao ponto a que eu cheguei, pensam a mesma coisa. Os motivos porque jogam podem ser e serão certamente diferentes, mas todos pensam igual.
O facto de estar em paz com o meu passado, de estar em processo terapêutico, faz com que hoje escreva descomplexadamente sobre tudo o que me aconteceu.
Lembro-me perfeitamente da angústia que era, ao fim de um ou dois dias após receber o meu vencimento, já não ter dinheiro. Lembro-me perfeitamente do que sentia. Lembro-me perfeitamente da quantidade de vezes que me passou pela cabeça desaparecer, literalmente.
Hoje, não penso em jogar, já vão meses. Hoje, voltei a conseguir ter uma vida normal. Hoje, sinto que estou a tornar-me a melhor versão de mim mesmo.
Ninguém imagina minimamente o que passei, o que pensei, o que lutei para estar onde estou agora. Eu sei todo o mal que o jogo online teve no meu comportamento e nalguns aspectos da minha personalidade. Tornei-me uma pessoa mais fechada, mais reservada.
Muitas vezes pergunto-me qual o meu propósito neste mundo e qual será o meu legado. Provavelmente, o meu propósito não será o de ser amado ou de constituir uma família, que é o normal. Talvez o meu propósito e o meu legado neste mundo, seja este, o de ajudar, o de sensibilizar.
Talvez o meu propósito e o meu legado seja, que através do meu exemplo, muitos possam evitar o caminho da penúria que eu passei.
Digam não ao jogo. Digam sim a uma vida normal.
(Se algum de vocês está a passar por uma fase complicada relacionada com este tema e precisar desabafar, podem entrar em contato comigo. Ninguém está sozinho.).