A publicação de hoje, não é tanto baseada na minha história em concreto, mas está relacionada. Como em muitos dos assuntos que se discutem actualmente, este é um daqueles em que parece que está a ficar enraizado.
No início da minha história, contei-vos como foi a minha introdução aos jogos online, nomeadamente ao poker. O poker chegou até mim através de amigos, que jogavam. Decidi experimentar.
Indo mais atrás, na altura dos nossos pais, avôs, para se jogar estes tipos de jogos, das duas, uma. Ou se ia a um casino “físico “ (que eram muito poucos), ou alguém organizava um “convívio” ilegal, para o fazer.
O meu pai era marinheiro, hoje em dia na reforma e parte da minha infância foi passada junto dele e dos colegas. Muitas vezes, aglomeravam-se na messe para jogar à Sueca, ou outro jogo qualquer. Se havia dinheiro envolvido, nunca vi. Queria era estar junto aos adultos a fazer “as macacadas” normais de uma criança. Mas era muito por exemplos como este, que os jogos aconteciam.
Hoje, 30 anos mais tarde, vou descrever o que acontece. Ligamos a televisão e em 15 minutos de intervalo publicitário, são capazes de passar 3 ou 4 anúncios de casas de apostas. Até a Cristina Ferreira é a cara de uma delas.
Eu, que sempre amei futebol, decido ver um jogo da liga portuguesa. Quem é o patrocinador principal da liga? Uma casa de apostas.
Eu, como apoiante do Sporting Clube de Portugal, decido comprar a nova camisola. Qual é o patrocinador principal, estampado na camisola? Uma casa de apostas.
Estamos a enraizar uma questão, que acarreta problemas sociais, problemas de saúde e de dependência. Bem sei que são empresas, mas não terão estas “empresas”, ou deveriam ter, uma obrigação social? O desporto tem sim, um cariz social, educacional mas, paradoxalmente, andamos a publicitar casas de apostas?
A Premier League, a principal liga europeia, já decretou que a partir da época 2026/2027, nenhuma equipa pode ter na parte da frente das camisolas, publicidades a casas de apostas. É um começo, mas há muito mais a fazer.
Em Portugal, na minha modesta opinião, qualquer clube/empresa de utilidade pública, com cariz social, porque está implícito, deveria publicitar algo que, estatisticamente está mais que provado, que causa adição e dependência.
Hoje fugimos um pouco da história, mas par quem tenta recuperar de um problema como este, é um texto em que vale a pena refletir.
Sei que muitos se vão identificar com esta história. E ela não termina aqui. Em breve, conto-vos o resto.
Digam não ao jogo. Digam sim a uma vida normal.
(Se algum de vocês está a passar por uma fase complicada relacionada com este tema e precisar desabafar, podem entrar em contato comigo. Ninguém está sozinho.)