Janeiro de 2024 marca o inicio da tomada de decisão em recorrer a ajuda profissional. E após algum tempo afastado do jogo online, uma recaída podia deitar todo o trabalho abaixo. E assim foi.
Tinha batido no fundo. Relacionamentos falhados. Dinheiro guardado, não passava de uma ilusão. A maioria dos amigos distantes. Quem continuava? A minha família, os de sempre. Depois de tantas desilusões causadas por mim, eles continuavam lá. E agradeço muito a família que tenho. Se hoje estou aqui, a contar a minha história, é porque eles nunca me deixaram desistir.
Lembro-me perfeitamente de um episódio, em que o meu irmão estava cá de férias. Eu estava no trabalho, sentia-me completamente desnorteado. Deu a hora de sair e eu piquei o ponto e fui-me embora. Andei a deambular de carro. Para terem uma imagem, eu estava a andar de carro, mas não tenho nenhuma lembrança de o estar a fazer. A minha mãe ligava-me, o meu irmão ligava-me e eu não atendia. Até que atendi. Estava no Pico Castelo, em lágrimas. O meu irmão veio ter comigo e deu-me um abraço. A minha mãe ficou no carro, em lágrimas também.
O jogo não te afeta apenas financeiramente. Afeta a rua personalidade, afeta as tuas emoções, juntamente com um outro qualquer problema que possas ter na tua vida, é um conjunto de situações, que mais cedo ou mais tarde, atingem o clímax. Umas pessoas conseguem lidar com isso, outras infelizmente não.
Recorri a consultas de psicologia online. Entre Janeiro e Outubro de 20024, fui acompanhado por uma psicóloga com a qual senti uma boa ligação, com quem não tinha dificuldade em falar sobre que assunto fosse. Durante 6 meses não joguei. Fazia aulas de spinning em casa, ia fazer caminhadas pelos picos sozinho. Era libertador. Sentia-me conectado comigo mesmo. Sentia-me bem.
Porém, faltava-me algo. Por muito que nas sessões de terapia, falasse sobre o que estava a sentir, de certo modo fiquei com a ideia que não estava a trabalhar no problema em si. E talvez por minha culpa também. Como já referi, nunca consegui gerir as minhas emoções. O meu passado, tanto com a questão da faculdade, como com a questão do jogo, tiveram, na minha opinião, um papel demasiado importante, porque foram alturas em que me isolei. Que me isolei das pessoas e dos meus sentimentos. Guardei tudo para mim. A necessidade de ter afeto, de validação de esperar que os outros retribuíssem da mesma forma, o amor, o carinho, a amizade. Já era uma pessoa insegura por natureza, e tornei-me ainda mais.
6 meses sem jogar, achava que tudo estava a correr bem. Estava feliz, estava a começar a apreciar a minha companhia. Sempre me disseram, e eu concordo, que se não gostares de ti, não vais conseguir gostar de ninguém na sua plenitude. Mas eu ainda não estava consciente disso. Até que, em certo dia, do nada, uma recaída. Recebi o meu vencimento e dois dias depois, nada.
Isto ainda durante o meu período de terapia online. Volta a frustração, volta a vergonha, volta tudo o que passei no passado aos meus pensamentos.
“Chega, já chega!”
Sou eu que vou tomar o controlo da minha vida. Sou eu que vou trabalhar para ser a melhor versão que posso ser.
Cheguei a casa, falei com a minha mãe e disse que não queria ter acesso à minha conta bancária. Entreguei os cartões, disse-lhe as datas dos pagamentos que tinha e pedi que ela me ajudasse a superar o problema. É ela que faz a gestão do meu dinheiro. Desde esse dia, foi como se o maior peso do mundo, saísse de mim.
Mas era só o primeiro passo, em breve conto o resto.
Sei que muitos se vão identificar com esta história. E ela não termina aqui. Em breve, conto-vos o resto.
Digam não ao jogo. Digam sim a uma vida normal.
(Se algum de vocês está a passar por uma fase complicada relacionada com este tema e precisar desabafar, podem entrar em contato comigo. Ninguém está sozinho.)